"Os peixes inundavam a boca. Meia dúzia de acarás foi enfiada pela boca
do morto, com os rabos deixados para fora, presos por uma espécie de
cambão
de arame que varava as bochechas, num arremedo de anzol.
O corpo boiava meio de lado, massa inerte entre a marola e a sujeira da
lagoa, mordiscado por carazinhos. Não notei logo o inusitado da boca – o
pescador foi quem me apontou o detalhe grotesco – pois o estado terrível
do corpo absorvia toda a atenção. A pele do tronco havia sido arrancada
a
partir de cortes regulares na base do pescoço e nas dobras das axilas.
‘Talho de taxidermista’, pensei comigo, numa sensação misturada de
assombro e
encantamento.” É a partir de uma pergunta que atormenta o personagem central que a
história de 'Peixe Morto' se desenrola - 'Mas quem poderia ter matado
Ascânio Guedes?'. Trata-se da história de um personagem que vê sua vida
mudar quando vestígios de um crime brutal apontam para o seu trabalho de
historiador das ciências especializado em Criacionismo. Peixe Morto
(Belo Horizonte: Autêntica, 2008), ganhador do Prêmio Petrobrás Cultural
2007 para projetos de ficção e finalista do Prêmio São Paulo de
Literatura 2009. Fonte: Editora Autêntica.
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