Cecília é uma secretária competente. Depois que seu patrão sai do
consultório dentário ela guarda todo o equipamento, desliga os
aparelhos, tranca a porta e vai embora. Doutor Marcos é um homem
tranquilo, e o trabalho com ele é sem sobressaltos. Hoje ele e a mulher
vão jantar em casa de amigos. Fato raro, pensa a secretária. Em geral,
doutor Marcos e a mulher ficam em casa. Estranho, para um casal jovem
como eles... Cecília gosta de trabalhar no consultório. Tudo é sempre tão
perfeitamente previsível que Cecília jamais poderia imaginar que no dia
seguinte receberia a visita da polícia em busca de informações sobre seu
patrão. Na véspera, doutor Marcos desaparecera sem deixar sinal. Não
havia registro de acidentes de trânsito nem de nenhum tipo de ocorrência
policial. Só que ele simplesmente não chegara em casa.
E, como se não bastasse, havia um detalhe absurdo: o carro de doutor
Marcos estava estacionado exatamente onde deveria estar, em sua vaga na
garagem do prédio onde morava. O que teria acontecido com doutor Marcos?
Sobre ele, Cecília explicaria a Espinosa: "Sempre foi atencioso e
gentil, nunca alterou a voz, nunca reclamou com mau humor de alguma
coisa. Ele parece irreal". Publicado em 2009. Fonte: Companhia das Letras.
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